Uma explanação de como experimentar a vitória, paz, liberdade e alegria que Deus já providenciou para nós em Cristo.
Mike Quarles (Traduzido com permissão do autor, por Willy Torresin de Oliveira)
O objetivo de postar este livreto escrito por Mike Quarles é muito simples: Muitos Cristãos que enfrentam luta na área da sexualidade muito facilmente desistem da caminhada, pelo fato de experimentarem muitas “quedas” no seu processo de crescimento. Acredito que este problema resulta do fato de acreditarmos que é nosso comportamento que determina nossa identidade. Ou seja, quando “caio” novamente em uma área de dificuldade, acredito que continuo sendo a mesma pessoa que sempre fui, e que jamais serei capaz de mudar. O texto de Mike Quarles é excelente para remover esta falsa noção. Por ser um texto longo, eu o dividi em 3 partes, que serão postadas em sequência. Fique à vontade para fazer suas observações e questões! Boa leitura!
Willy Torresin.
PARTE I
Muita promessa, mas pouca realidade
Entre os evangélicos há um consenso geral quanto à salvação. A maioria de nós concorda que somos salvos pela fé em Jesus Cristo e Seu trabalho concluído na cruz, e mais nada. No entanto, quando se trata da santificação, isto é, crescimento pessoal e amadurecimento, existem tantas respostas quanto há denominações. Sabemos como lidar com os pecados que foram cometidos, mas não sabemos o que fazer com o pecado na vida de um crente. Parece até estranho, mas tenho encontrado poucos crentes, incluindo missionários, pregadores e oficiais da igreja, que têm uma clara compreensão da santificação. Na prática isto significa que Cristãos que enfrentam problemas que controlam suas vidas e pecados persistentes não estão encontrando ajuda eficaz ou respostas para seus problemas. Por quê isto tem acontecido? Será que não recebemos a promessa de vida abundante (João 10:10), vitória (2 Cor. 2:14), e poder para sermos mais que vencedores sobre todos os nossos problemas (Romanos 8:37)? Há um grande abismo entre as promessas que recebemos e a realidade que estamos experimentando.
Onde está a alegria?
Após ser Cristão por cerca de dez anos, comecei a observar algo estranho entre os Cristãos. Quase sem exceção a maioria confessou que na melhor das hipóteses suas vidas eram monótonas ou enfadonhas, e que na pior das hipóteses eram caracterizadas por fracasso crônico. A maioria se sentia cínica, e muitos demonstravam estar decepcionados e irritados, sendo que alguns já haviam desistido da tentativa de encontrar respostas verdadeiras para suas questões. Muitos haviam se resignado a uma existência medíocre, como diz o Dr. Charles Stanley. Naquela época, eu estava na mesma canoa com aquelas pessoas. Eu havia me deparado com a verdadeira realidade da minha existência, e havia deixado o pastorado pelo fato de minha vida pessoal e meu casamento estarem em frangalhos. Eu tinha perdido a esperança de experimentar vitória, e a derrota era a minha experiência diária. A pergunta de Paulo feita aos Gálatas, “O que aconteceu com sua alegria?” era totalmente apropriada para minha situação.
Sabemos como lidar com os pecados que foram cometidos, mas não sabemos o que fazer com o pecado na vida de um crente.
Onde está o poder?
Parece que o poder do Cristo ressurreto é inexistente na maioria dos Cristãos. Não apenas vemos milhares de Cristãos evangélicos se divorciando por não conseguirem viver com seus cônjuges, mas muitos outros enfrentam problemas que dominam suas vidas. Tenho estado especialmente ciente de Cristãos que têm lutado contra o alcoolismo, vício em drogas, homossexualidade, adultério, desvios sexuais, depressão, etc. E todas elas tratam-se de “Cristãos comprometidos” em igrejas fortemente evangélicas que já eram crentes há mais de dez anos. Alguns inclusive pastores e missionários. Eu pessoalmente lutei com alcoolismo durante cinco anos após deixar o pastorado. Eu estudei em seminário, li centenas de livros Cristãos, participei de inúmeras conferências e seminários, e tive muitas sessões de aconselhamento e terapia, mas nenhuma destas atividades apresentou uma solução para mim. Será que há uma solução? Será que uma vida Cristão vitoriosa é de fato possível? Será que há algo que não estamos percebendo? Será que há uma chave, algo essencial para a vida Cristã abundante, cheia do Espírito, e vitoriosa? Eu creio que a resposta para todas estas perguntas é sim! Mas primeiro é importante considerarmos mais profundamente qual é o problema que estamos enfrentando.
Um Paradoxo Paralisante
De certo modo, todos nós sabemos que o problema é interno, que se trata de uma questão do ego. Simplesmente não conseguimos fazer o que deveríamos fazer e acabamos fazendo aquilo que não deveríamos fazer. No entanto, vamos à igreja, e lemos livros nos quais somos exortados a agir como Cristãos (justos e santos), no entanto, as mesmas pessoas que nos dizem para agirmos desta maneira também nos dizem que basicamente somos pecadores com um coração corrupto e enganoso no qual não há nada de bom. Nos encontramos então em um paradoxo paralisante, no qual pecadores corruptos e maus são exortados a agir como santos e justos. Será que é de espantar que isto nunca funciona?
Qual é o problema? Creio que todos nós concordamos que há uma batalha acontecendo o tempo todo. Romanos 8 e Gálatas 5 nos informam que a batalha é a carne contra o espírito. “Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer” (Gálatas 5:17). O que é a carne? A carne é quem verdadeiramente eu sou? Parece que muitos Cristãos acreditam nesta possibilidade, apesar de não terem refletido seriamente sobre esta questão. Mas isto não é possível, pois Romanos 8:6-9 nos diz o seguinte:
“A mentalidade da carne é morte, mas a mentalidade do Espírito é vida e paz; a mentalidade da carne é inimiga de Deus porque não se submete à Lei de Deus, nem pode fazê-lo. Quem é dominado pela carne não pode agradar a Deus. Entretanto, vocês não estão sob o domínio da carne, mas do Espírito, se de fato o Espírito de Deus habita em vocês.”
Portanto vemos que a carne resulta em morte, é hostil a Deus, não está sujeita ao amor de Deus, e não é capaz de agradar a Deus. Vemos então que a carne não é quem nós somos, mas uma parte de nós que temos que reconhecer – “Portanto, irmãos, estamos em dívida, não para com a carne, para vivermos sujeitos a ela.” Quando pensamos na carne, a maioria de nós pensa sobre as obras da carne, como listadas em Gálatas 5:19-21, que incluem imoralidade, idolatria e bebedeiras. Mas Paulo nos diz em Filipenses 3:4-6 que sua carne incluía sua posição social, educação, zelo religioso e comprometimento. Portanto, o que é carne?
Uma simples definição de carne é: qualquer coisa que usamos para suprir nossas necessidades e para lidar com a nossa existência que não seja de Cristo. Foi esta a conclusão de Paulo quando ele disse, “mas o que para mim era lucro, passei a considerar como perda, por causa de Cristo” (Filipenses 3:7).
Uma simples definição de carne é: qualquer coisa que usamos para suprir nossas necessidades e para lidar com a nossa existência que não seja de Cristo
Eu gosto muito da explicação simples de Bill Gillham, “carne se refere às velhas maneiras ou padrões pelos quais você tentava satisfazer suas necessidades ao invés de buscar Cristo em primeiro lugar e confiar que Ele supriria todas as suas necessidades.” É por isto que é possível a um Cristão viver sua vida “andando na carne”, tentando suprir suas necessidades a partir de seus próprios recursos. Aqueles velhos padrões e hábitos continuem disponíveis, e é por este motivo que a maioria dos Cristãos vive em derrota. Eles não conhecem a solução e a vitória já providenciadas por Deus.
Em resumo podemos dizer que a carne consiste de todos os padrões habituais que desenvolvemos no passar dos anos na tentativa de suprir nossas necessidades e carências com nossos próprios recursos, nossa própria força e sabedoria. Trata-se simplesmente da vida egocêntrica. O Dr. Charles Solomon diz, “o verdadeiro problema é que tentamos viver a partir de nossos próprios recursos, e não dos recursos de Cristo. É isto que significa a vida egocêntrica ou carne.”
Nos seus escritos, o Dr. Solomon nos diz que a carne e a vida egocêntrica são sinônimas, e que o estado carnal é a condição que existe quando um Cristão opera a partir de seus próprios recursos, sob o controle do pecado que ainda reside no seu corpo físico.
A carroça na frente dos bois
Um dos maiores enganos na igreja de nossos dias é a crença de que fazer ou desempenhar certas atividades ou o comportar-se de certa maneira irá produzir a mudança desejada e nos capacitará a crescer espiritualmente.
Um dos maiores enganos na igreja de nossos dias é a crença de que fazer ou desempenhar certas atividades ou o comportar-se de certa maneira irá produzir a mudança desejada e nos capacitará a crescer espiritualmente. A maioria dos programas desenvolvidos pela igreja são feitos para que a pessoa desempenhe certas atividades, como leitura da Bíblia, oração, memorização das escrituras, tempo devocional, testemunho, frequência às atividades da igreja, contribuição, etc. Apesar do fato de todas estas atividades serem boas em si mesmas, devemos reconhecer que todas elas podem ser desempenhadas na energia da carne, ou seja, em nossa própria força e sabedoria, que são os recursos do ego. Martinho Lutero, em sua perspectiva como um monge e forte orientação na justiça operada pelas suas boas obras, nos diz o seguinte:
“Não é útil à alma quando o corpo está ocupado com deveres sagrados, ou quando ora, jejua, se abstém de certos alimentos, ou faz qualquer tipo de trabalho que possa ser feito… pois as coisas que mencionamos podem ser feitas por qualquer ímpio. Tais obras não produzem nada além de hipócritas.”
Parece que a maioria dos programas de discipulado hoje em dia, com sua ênfase no desempenho, não passa de monasticismo vestido de evangelicalismo. Tais programas não produzem os resultados desejados, mas na maioria das vezes simplesmente reforçam a vida egocêntrica. A maioria de tais programas é estruturada de forma que somente aqueles que são organizados, bem disciplinados e diligentes conseguem ser bem sucedidos. Aqueles que caem ou se desviam durante o processo são vistos como pessoas que têm algum pecado em suas vidas ou que não são sérios em seu compromisso com Deus. Aquelas pessoas que enfrentam sérios problemas que controlam suas vidas não encontram muita ajuda na igreja evangélica hoje. Boa parte da igreja recorre ao mundo e envia aqueles com problemas profundos para psiquiatras e para centros de tratamento seculares. O Dr. Charles Solomon questiona esta prática dizendo o seguinte:
“Se entendo a Bíblia corretamente, a vida abundante e a ansiedade são mutuamente exclusivas, como Paulo escreveu, “não fiquem ansiosos por coisa alguma… e a paz de Deus, que excede todo o entendimento guardará seus corações e suas mentes em Cristo Jesus” (Filipenses 4:6-7). Todos os Cristãos experimentam paz com Deus pela redenção, porém relativamente poucos experimentam a paz de Deus. E é justamente esta paz que a pessoa neurótica ou psicótica deseja experimentar desesperadamente. Da mesma forma é esta mesma paz que a pessoa aparentemente bem ajustada precisa, apesar do fato de geralmente não perceber que ela tem algum problema até seu mundo confortável começar a cair aos pedaços.”
O Paradoxo Poderoso
Será que existe uma chave que parece estar faltando, que abre a porta para a vida Cristã vitoriosa? Sim, eu acredito que existe, e
A morte é a porta para a vida abundante.
que se trata de um paradoxo, porém um paradoxo que supre o poder necessário. A morte é a porta para a vida abundante. O fato é que muitos de nós já ouvimos e lemos que a chave é “morrer para o ego (ou para o eu)”. Porém, esta afirmação não é apenas não bíblica, mas também um engano cruel. Novamente, também neste ponto, como muitos outros métodos, a ênfase está naquilo que nós fazemos. Porém, o modo como Deus opera a libertação, liberdade e a vitória, é bem diferente. A nossa morte já foi realizada – trata-se de um fato bíblico – “pois sabemos que a nossa velha natureza pecadora já foi morta com Cristo na cruz a fim de que o nosso eu pecador fosse morto, e assim não sejamos mais escravos do pecado” (Romanos 6:6). Se acreditamos na verdade da palavra de Deus apresentada em Romanos 6, vemos que nossa co-crucificação resulta no seguinte:
“Que também vivamos uma nova vida” (Romanos 6:4) “Também seremos unidos com Ele por uma ressurreição igual à dele” (Romanos 6:5) “Para que o corpo do pecado seja desfeito” (Romanos 6:6) “Sendo livres do poder do pecado” (Romanos 6:7) “Sendo capazes de viver com Cristo” (Romanos 6:8) “E sendo vivos para Deus” (Romanos 6:11)
A morte de Cristo por nós nos libertou da pena pelos pecados cometidos, e nossa morte com Cristo nos libertou do pecado em nossa vida. Por que isto acontece?
A morte de Cristo por nós nos libertou da pena pelos pecados cometidos, e nossa morte com Cristo nos libertou do pecado em nossa vida.
Isto acontece porque nossa morte com Cristo termina nossa velha existência egocêntrica. De fato, esta morte dá fim à velha pessoa que éramos, o pecador que amava pecar que não era capaz de fazer nada que não fosse pecado. Uma das maiores verdades da Bíblia, que parece que a maioria dos Cristãos não consegue entender e experimentar é esta: “Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criatura, as coisas velhas já passaram, eis que tudo se fez novo” (2 Coríntios 5:17). John Murray diz o seguinte sobre esta passagem:
“Portanto, a regeneração é basicamente um ato Deus pela ação imediata do Espírito Santo em operação no homem (Colossenses 2:13), originando nele uma nova dimensão de vida moral, uma ressurreição a uma nova vida em Cristo. Esta nova vida não é meramente um estado neutro que surge do perdão dos pecados, mas sim o implante positivo da justiça de Cristo no homem, pela qual ele é vivificado (João 5:21), gerado (1 João 5:1), feito uma nova criatura (2 Coríntios 5:17), e pela qual ele recebe nova vida (Romanos 6:4). A regeneração envolve uma iluminação da mente, uma mudança na vontade, e uma natureza renovada. Esta regeneração se aplica à total natureza do homem, irrevogavelmente alterando sua disposição governante e o restaurando ao verdadeiro conhecimento experiencial de Cristo. Trata-se do partilhar da natureza divina (2 Pedro 1:4)… Quando uma pessoa morre sabemos pela amarga experiência que os laços que uniam tal pessoa à vida e à atividade neste mundo são rompidos. Tal pessoa não atua mais no mundo em relação ao qual morrera; ele não mais mantém qualquer relacionamento nesta esfera.”
Continue lendo este artigo na Parte II.
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